História de um coração

Era uma vez um coração partido. Ele procurava todos os seus pedacinhos que se haviam perdido pelo caminho, o seu maior sonho era colá-los com um pouco de amor.

Numa bela noite, viu que poderia ter encontrado um dos maiores pedaços, agarrou-se com força a essa esperança. Mas ele sabe que não pode dar tudo o que tem, sabe que necessita de guardar um pouco, para no caso de haver uma quebra, ter forças para continuar a bater.

O coração mostra-se forte, diz não ao que mais deseja, vai à luta sem que ninguém saiba, vai em busca de algo mais.

Foi obrigado a tomar a pior atitude possível, mas precisa de ter algo para confiar, para acreditar. Com essa atitude, pode perder o que neste momento tem prioridade, mas ele corre em busca da verdade. A pálpebra fecha, o joelho dobra e o coração dói quando recorda, a incerteza apodera-se dele, mas mesmo assim, fragilmente colado, procura a felicidade...

(Adriana Veloso)

O desconhecido

Se penso em outros tempos… em que chorei, gritei e sofri. Parece mentira. Os meus olhos eram doridos e encharcados, finalmente, tornaram-se brilhantes e amados. Agora sinto-me profundamente interiorizada numa bela primavera. Algo que nem sequer via, muito menos sentia. Caía sempre num abandono de esquecida… pensando tanto neste momento, que com todo o sofrimento parecia impossível! Tantas lágrimas caíram dentro de mim… tantas sombras impediam de me sentir assim.

Agora o meu coração está cheio de passos e vozes, lembrando-me de nomes passados, lembrando-me dos locais onde as minhas palavras não chegaram. Os passos que estão marcados dentro de mim, admito que, me fizeram sofrer. Sofri e aprendi, nada foi em vão, quem sobreviveu foi o meu coração!

É preciso acreditar que tudo pode mudar, os teus sonhos podem tornar-se realidade, podes encontrar a felicidade. Na tua vida, encontras alguém que vira o teu mundo de pernas para o ar e que te deixa a sonhar. Nada é impossível, mas é algo que não se vê, sente-se! Algo que te faz sentir viva, algo que te ilumina e te fascina… é o desconhecido que está perdido, e a tua missão é encontrá-lo!

(Adriana Veloso)

Grito de libertação

O suposto não era eu ser alguém que enfrenta as coisas a que tenho fugido, esquecido, enterrado. A verdade, é que não posso adiar os meus problemas para outro século, nem a minha vida.

Hoje, sou mais forte… enfrento os fantasmas de uma voz, as sombras de um passado. Tornei-me muito boa em jogar pelo seguro e ser invencível. Não quero transformar-me na visão que alguém sonhou… E recuso que a minha vida e as outras pessoas, tomem conta de mim e das minhas decisões.

Já não é difícil chorar um pouco, perder um pouco, morrer um pouco… isso apenas me mostra que vivi. Deixa-me sentir o mundo a meus pés, não importa se irei falhar. Se cair mais uma vez, ao levantar-me, ainda serei mais forte do que me tornei.

Sou perfeita apenas dentro da minha imperfeição. Muitos não conseguem entender-me, isso é porque não me conhecem de todo! Não gasto letras com quem não está disposto a aprender… Palavras para quê? O que importa está no coração, e aqui, o meu grito de libertação!

(Adriana Veloso)

O filme...

Fechei os olhos, relaxei! Imaginei que estava numa sala de cinema… ouvia os passos das pessoas que passavam para a fila da frente. Escolhi um lugar, na última fila, num canto… e então, sentei-me. A tela abriu, começa então, o filme da minha vida…

Tudo começa no hospital, eu entro no filme e vivo a cena! Vi os pormenores das máquinas, pormenores do seu corpo ainda quente, com o sangue que me deu origem a correr nas veias. Vi a fraqueza em que já se encontrava, uma cor pálida, mas acompanhada de um sorriso e de uma lágrima. Ele tinha visto as suas pequeninas a entrar no quarto para o visitar!

Não consegui sentir o sabor ou o cheiro da cena. Mas ouvi as máquinas do hospital, era um som irritante que cortava as poucas palavras que poderiam existir. Ouvi também passos, choros desesperados que se transformavam em lágrimas eternas e dolorosas… Ouvi a sua voz, então acalmei. Uma voz em tom baixo e suave que o meu coração tomou como um “Olá”!

Depois veio o toque, em meu corpo sentia o pequeno coração apertado, coração que batia velozmente… quase a caber na palma da minha mão. Algo o perfurava, era a dor de o ver naquele estado! A minha barriga doía, estava com medo, segue-se um mal-estar … A sua mão agarra na minha com tanta força… trazia consigo esperança, alegria de viver!

Agora a tela fecha, a cena acaba, e volta a ser tudo uma simples recordação! Choro, pois foi como se tivesses estado comigo, tivesses-me tocado e voltasse a perder-te!

Não é o melhor ou o pior que recordo, é sim a ideia mais concreta que tenho de ti, eu apenas não o sabia!

( Pai * )

(Adriana Veloso)

Sorri, pois eu consegui!

Escuta! Escuta o vento, escuta como ele me chama para levar-me com ele para bem longe.

Cala-te! Cala-te e deixa que o vento passe sem que possa levar-me.

Esconde-me! Esconde-me nos teus braços…

Olha-me! Olha-me porque os teus olhos protegem-me, e por esta noite, apenas descansarei e esperarei pelo amanhã.

Sorri! Sorri pois mais uma vez eu consegui. Consegui fugir do vento que me levaria para longe de ti…

(Adriana Veloso)

Memórias Criadas

Falsas recordações guardo no meu coração. São memórias criadas que me fazem acreditar que te conheci o suficiente.

Os anos passam... mas aquela saudade está sempre presente. Muitas vezes, nem me apercebo que ela existe. É uma ferida tão pequenina, mas que dói, é um vazio que aumenta a cada dia, vazio esse que está guardado para uma pessoa, a única que o pode preencher.

O pior não foi quando te perdi, aí eu era apenas uma menina inocente que ainda não sabia o que era a morte. O que custa mais, é este depois, quando te procuro e não te encontro e sei que nunca mais te terei.

Para compensar esta perda, crio as tais falsas recordações, contadas por outros e ilustradas por mim. Não sei se são mentiras ou verdades incertas. Sei que é algo em que não quero pensar, pois são essas histórias que me mantêm viva!

(Adriana Veloso)