A morte

Hoje, olhando a Natureza, decidi escrever sobre o que me aterroriza: a morte. A minha experiência dita que perder um ente querido é perder um bocadinho de brilho, de inocência. Os olhos vão morrendo pouco a pouco; o verso fica sem rima.
Escrever sobre o que magoa é querer o amor ausente. Amor que fisicamente não será mais demonstrado. O carinho vai-se perdendo, a saudade vai aumentando, a lágrima lentamente deslizando. Fico no desespero revoltada, inconformada sem saber o que nos torna tão frios. Vou ao encontro de uma definição, para compreender, para aceitar.
Dizem-me que a morte não passa um simples adeus, que os que partiram foram para um lugar melhor. Proíbem-me de ficar triste, mas as minhas mãos estão cheias de saudade. Algo que sempre escondi: eu ainda não sei lidar com a morte, por mais que ela passe por mim, eu ainda não descobri como deixa-la passar sem que me leve um pedaço do que eu sou. Por fora, finjo ser dura, ser de pedra; ajudar os que estão a passar pelo que passei, mas não há auxílio, cada um lida com ela da forma que consegue. Cada um descobre como seguir o seu caminho recordando quem já partiu.
O pouco brilho que me resta, está enevoado, impedindo-me de não chorar. O sentimento é errante, vai embora no olhar de quem já mora distante. A morte é quando o tempo e a distância se unem para sempre. Então vemos que existe a canção da liberdade para os momentos de saudade. As palavras da melodia são por arte lágrimas de solidão.

(Adriana Veloso)