Amanhã

Na pureza do meu grito eu me levanto. Assim eu canto, sem me ouvir cantar. Cantar, para não dizer nada, não dizer nada... chorar. Chorar como uma criança, uma criança que já não tem confiança. A confiança que se perdeu num sonho. Um sonho que não digo. Não digo porque, talvez seja melhor, e encobri-lo? Também!
Na pureza do meu grito eu me levanto. Assim é o meu falar, ingénuo e quase vulgar. Pode ser vulgar, mas diz tudo. Tudo o que sinto, o que acredito! Acredito num amanhã, um amanhã diferente...
Na pureza do meu grito eu me levanto. Renasce um novo eu, morre um passado que ficará enterrado.
Quando eu me levantar, logo me vou encontrar, tudo isto acontecerá amanhã!


(Adriana Veloso)

Cantar neste silêncio

Olha-se e não se sabe que está ali um Universo que chama. Um Universo por onde já caminhei, onde não quero voltar. Entre seres ignorados, dizeres que não são ditos, sentimentos que mudaram.

E é, no momento mais errante, que elimino o que não era bom o suficiente, tudo o que me trazia um sorriso com uma lágrima, tudo aquilo que me desfazia: as sombras, o encantamento, a raiz de querer ficar por perto, a calma, o gesto, o sossego e, por fim, o pensamento.

No meu pensamento reflecte-se alguém a atravessar a estrada, como quem diz “figura liga figura”, sobre um campo de caminhos traçados. Figuras que trazem respostas, atitudes inimagináveis, palavras que não têm razão de ser.

Perco um Universo, esqueço uma voz, permaneço no silêncio. Porque só o silêncio liberta o corpo e traz um novo Universo de volta.

Digo e repito: vale a pena cantar neste silêncio!

(Adriana Veloso)