Calada enquanto o coração fala

Destruí um direito com que um dia sonhei, senti-o perto do peito, mas não o alcancei. Dei asas à imaginação, dei (-me) permissão para sonhar, fantasio, idealizo novas páginas na escrita, recomeço novas histórias.

Como não tenho coragem para dizer o que me vai no coração, vou escrever, porque escrever é viver de emoção. Muitas vezes, sinto-te sem querer, mesmo que não digas nada posso entender-te. Peço que também me entendas quando calo o que sinto, apetece-me gritar, mas o vento sufoca as minhas palavras, tornando-as mudas para alguns, ensurdecedoras para mim. As palavras são boas de ouvir, mas a mim custam-me a sair.

Esta noite, vou pintar os sentimentos com purpurina, vou escrever com letras bem grandes… Esta noite, as minhas palavras estão a brilhar, vou guardá-las até ao dia em que terei coragem para no teu ouvido as sussurrar.

(Adriana Veloso)

Relógio do tempo

A amizade sempre foi uma luz que se acende na escuridão. Eu sempre fui daquelas que apenas via lutos e dores, entretanto, descobri as cores. Descobri, também, que existem heróis escondidos nas sombras do tempo… Eu é que estava muito ocupada em não fazer nada, acomodando-me. Mas houve um momento em que o relógio do tempo me despertou.

A vida não pára, eu é que estava parada. O relógio conseguiu pôr-me em movimento e a descobrir que o sentido das coisas está na realidade do momento.

Finalmente percebi que o nosso relógio apenas nos quer mostrar que é importante encontrarmo-nos a nós próprios, não perder muito tempo com tudo o que é insignificante, esquecer o medo da mudança e, sobretudo, a acreditar.

O relógio do tempo está aqui para nos “acordar”…

(Adriana Veloso)

Dar

Entre toda a exaustão que preenchia o meu corpo e a minha esperança que ia morrendo, havia uma pequena luz, que pensei estar apagada. Mas, com um suave toque… brilhou. Brilhou com tanta intensidade que me levou para caminhos que eu nunca imaginei que existissem.

Novas imagens, novos sentimentos, novos horizontes… levaram ao inesperado: voltar a gostar de mim mesma. Murmúrios do passado estavam presentes, fiz de tudo para combater a propagação do som e consegui!

Hoje não falo do amor de dois enamorados, esse que nunca tive o prazer de conhecer. Hoje falo de ajuda mútua, de carinho e preocupação; hoje falo de viver. Viver intensamente, dar tudo e com nada ficar, dar até o coração, quando alguém segurar a minha mão.

Poucos entendem a dificuldade de ver o que as palavras não transmitem, ouvir o que os olhos dizem, estar no outro e não só em si. Um turbilhão de pensamentos sem resposta procura-me. Mas é tão simples: o importante é dar, sem esperar receber.

(Adriana Veloso)