A morte

Hoje, olhando a Natureza, decidi escrever sobre o que me aterroriza: a morte. A minha experiência dita que perder um ente querido é perder um bocadinho de brilho, de inocência. Os olhos vão morrendo pouco a pouco; o verso fica sem rima.
Escrever sobre o que magoa é querer o amor ausente. Amor que fisicamente não será mais demonstrado. O carinho vai-se perdendo, a saudade vai aumentando, a lágrima lentamente deslizando. Fico no desespero revoltada, inconformada sem saber o que nos torna tão frios. Vou ao encontro de uma definição, para compreender, para aceitar.
Dizem-me que a morte não passa um simples adeus, que os que partiram foram para um lugar melhor. Proíbem-me de ficar triste, mas as minhas mãos estão cheias de saudade. Algo que sempre escondi: eu ainda não sei lidar com a morte, por mais que ela passe por mim, eu ainda não descobri como deixa-la passar sem que me leve um pedaço do que eu sou. Por fora, finjo ser dura, ser de pedra; ajudar os que estão a passar pelo que passei, mas não há auxílio, cada um lida com ela da forma que consegue. Cada um descobre como seguir o seu caminho recordando quem já partiu.
O pouco brilho que me resta, está enevoado, impedindo-me de não chorar. O sentimento é errante, vai embora no olhar de quem já mora distante. A morte é quando o tempo e a distância se unem para sempre. Então vemos que existe a canção da liberdade para os momentos de saudade. As palavras da melodia são por arte lágrimas de solidão.

(Adriana Veloso)

Dentro de mim :O

Cansei-me de pendurar estrelas no céu, aquecer as mãos no Sol e correr pelo Universo. Cansei-me de metáforas, cansei-me de ilusões. Hoje vou libertar-me, vou ver-me ao espelho, não vou ocultar a minha sombra. Vou ver-me tal como sou. Em mim posso procurar a singularidade inicial, o vazio incandescente ou a aparência total. Não é uma questão de bem ou mal, mas sim, ser frontal.
Hoje vou conhecer-me, mesmo que perca um pouco de orgulho por mim, hoje o conhecimento irá preencher-me sem preconceito.
Aconteça o que acontecer, o que está dentro de mim eu vou ver...

(Adriana Veloso)

Asas de insecto

Deixo a colmeia, voo às cegas, as flores atraem-me, vou em direcção à mais bela pétala para descansar a alma. Enquanto isso, canto a minha dor…
As minhas asas são transparentes, mas nem todos vêem através da sua instabilidade. Nelas reflecte o Sol, tal como o resto do Universo, onde eu sou apenas um insecto.
Sou forte. A minha força é preenchida por lutas que vêm de outras vidas, onde voei sobre as adversidades. Sou também fraca, onde pensei em desistir, onde me vi desfalecer, abriram golpes na minha fragilidade.
A Primavera chega, está na hora de voar para longe, porque aqui é como se ainda fosse Inverno, milhares de anos de tempestade. Obrigando-me a fugir, largar a colmeia e voar sem vontade de os perder… O meu vulto começa então a desaparecer, as minhas asas de insecto quebram a cada despedida, recomeçando uma nova vida.

(Adriana Veloso)

Infância ( - Little Drii )

A infância era o tempo em que era feliz e não sabia. Dizer a palavra “amo-te” não era difícil, apaixonava-me por um pequeno olhar cheio de ternura, onde era inocente demais para saber que mundo é assim tão assustador. Algumas palavras me golpearam e nunca cicatrizaram… mas, na altura, não machucavam. A infância era quando um sorriso surgia, porque era um reino onde ninguém morria. Criança, é o que quero voltar a ser, não quero crescer.
Mas essa inocência perdeu-se no tempo, no tornar-se “adulta”: entristeci porque percebi que fui uma criança feliz, mas o presente continua tão amargo. Agora vejo o que perdi e naqueles tempos não vi: algumas das pessoas que amo fugiram com a distância, chorei porque senti a falta que elas me fazem, não só hoje, mas sempre. Chorei ao ver que a solidão dói, enquanto pequenos, tudo parecia mais fácil… tínhamos todos do nosso lado com a protecção que necessitávamos, mas um dia, tudo foge… tudo muda.
Somos adultos, está na hora de sobreviver por nossa conta. Buscar as forças daqueles momentos e seguir o caminho que é iluminado pela saudade.
Pelo que se diz, a infância é a idade de ser feliz.
(Adriana Veloso)

Calada enquanto o coração fala

Destruí um direito com que um dia sonhei, senti-o perto do peito, mas não o alcancei. Dei asas à imaginação, dei (-me) permissão para sonhar, fantasio, idealizo novas páginas na escrita, recomeço novas histórias.

Como não tenho coragem para dizer o que me vai no coração, vou escrever, porque escrever é viver de emoção. Muitas vezes, sinto-te sem querer, mesmo que não digas nada posso entender-te. Peço que também me entendas quando calo o que sinto, apetece-me gritar, mas o vento sufoca as minhas palavras, tornando-as mudas para alguns, ensurdecedoras para mim. As palavras são boas de ouvir, mas a mim custam-me a sair.

Esta noite, vou pintar os sentimentos com purpurina, vou escrever com letras bem grandes… Esta noite, as minhas palavras estão a brilhar, vou guardá-las até ao dia em que terei coragem para no teu ouvido as sussurrar.

(Adriana Veloso)